Foi uma noite no mínimo caricata.
A vontade inicial era de sair, jantar, aproveitar a noite magnífica que se adivinhava e a musica dos corpos e dos espaços.
Mas como tudo na vida, este plano mudou numa fracção de segundo e acabamos por ir trabalhar. Uma festa privada, com gente estranha mas bonita na simpatia e simples no trato. Como a energia já estava canalizada para a noitada, a produção foi amplamente caprichada e naquela festa não houve pescoço que não se virasse nem olhos que não nos vissem. Estávamos simples, mas magníficas.
O trabalho passou ligeiro e a noite ainda ia a meio. Alguns telefonemas depois, concluímos que a nossa nova casa de eleição estava fechada. Nada de Trumps for tonight…
“Finalmente… Vamos!”
Antes de nos depararmos com uma casa completamente cheia, ainda tivemos oportunidade de mostrar a nossa graça aos senhores agentes da autoridade, numa Operação Stop que apenas por milagre não nos estragou a noite…
Adoro discotecas Gay. É ainda dos poucos sítios onde me sinto completamente à vontade. Rodeada de homens e na paz. Tranquila. Claro que homens são homens, gays ou não… duas mulheres bonitas, juntas, num espaço onde as poucas representantes do espécime feminino são baixas, atarracadas e com cara de poucos amigos, é claro que fomos a atracção da noite.
A sensação que tenho é que cada vez mais cada um de nós começa a deixar de esconder a efectiva faceta homo que existe cá dentro. Cada vez mais os espaços que até há poucos anos eram exclusivos da comunidade gay são frequentados por ditos hetro, como simples espaços de diversão nocturna inseridos no roteiro da noite lisboeta.
Finalmente o preconceito começa a fazer parte do passado e a ficar fora de moda.
É muito engraçado quando eles nos abordam, num misto de desejo e admiração. Às vezes parece-me que seria fácil convertê-los, ou reconvertê-los, nem que fosse por uma noite.
Ao mesmo tempo, esta abertura de mentalidades e a mistura de opções sexuais acaba com a tranquilidade de quem encontrava paz nestas discotecas, onde podíamos “soltar a fera” sem temer más interpretações ou qualquer importuno.
A noite acabou à conversa com um agarrado que sofria de solidão. Precisava porque precisava de companhia para snifar, não o queria fazer sozinho, sentia-se deprimido.
Afinal, quem é que não tem dentro de si mesmo uma nesguinha de carência? É como a sexualidade, os dois lados são-nos intrínsecos, naturais, fazem parte de nós. Completam-nos.
Este vazio, esta carência, esta solidão que todos nós temos, de que tentamos fugir todos os dias, tentando eliminar e colmatar este sentimento, preenchendo-nos com milhões de coisas, é simplesmente incontornável…
Há 6 meses
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