Este assassinato descobre perante os nossos olhos as inúmeras exclusões existentes nas nossas sociedades evoluídas e racionais.
Gis, emigrante brasileira, transexual, prostituta, sem-abrigo, portadora do vírus HIV e tuberculose. Assassinada por um bando de adolescentes na cidade do Porto.
As vítimas de violência e de assassinato por pertencerem a qualquer uma destas categorias estigmáticas (ou a todas elas) são cada vez mais e quase invariavelmente os criminosos desdramatizam defendendo que estão a contribuir para a purificação da sociedade.
Cada vez mais a sociedade e os seus os crimes são estigmáticos e preconceituosos.
Cada vez mais o ódio é uma ideologia.
Cada vez mais se alarga a idade infantil e a categoria "criança", cada vez mais se descupabilizam estes pequenos demónios mascarados de anginhos vitimizados por uma sociedade irresponsável e desiquilibrada.
O que o país deveria ponderar é como é possível o abandono por parte do Estado de pessoas portadoras de HIV, sem abrigo, a prostituir-se sem qualquer tipo de segurança ou de condições mínimas de seja o que for...
A Gis foi morta. A única coisa a fazer agora é combater as condições de exclusão em que tantas outras se encontram.
Quanto às criancinhas... têm que ser reeducadas. Pela acção social junto das famílias de origem, e em programas de acolhimento, inserção e educação.
Quanto à homofobia e à estigmatização, preconceito e violência sobre ela e qualquer outro tipo de orientação que saia do normal, há que combater o machismo puro e duro, principalmente o que é transmitido subtilmente pela educação católica.
Já vai sendo tempo de pôr fim à multiplicação de factores de exclusão social... "um sem-abrigo toxicodependente", "prostituto", "transexual", "brasileiro", "seropositivo"... pouco falta para começarem a dizer que afinal a vítima era carrasco...
Apenas ao mais velho dos jovens envolvidos foi aplicada a prisão preventiva, apesar da vítima apresentar sinais de tortura e de alguns jovens terem (supostamente) confessado agressões sexuais...
Claro que já surgem motivos desculpabilizantes para a acção dos rapazes.
O Presidente das Instituições de Solidariedade Social, Padre Maia, veio dizer que o que aconteceu estará relacionado com o assédio de um pedófilo a um jovem da instituição e que, pobrezinhos, para se defenderem, os jovens decidiram resolver o assunto com as próprias mãos!
Não será isto uma delimitação clara deste crime, a uma natural resolução motivada pelo preconceito e pelo ódio?
Será que para o Sr. Padre esse ódio e preconceito são tão compreensíveis, banais e naturais que são um motivo óbvio para a desculpabilização deste crime?
Há 7 meses
2 comentários:
È curioso. Dois dos teus post anteriores falavam de prisões e da dificuldade de aceitar as verdades. Pois aí tens a verdade, nua e crua, quer gostes ou não. Podemos aventar mil hipoteses, apontar mil culpados desde os próprios aos que, por intrusão ou omissão, permitiram que estas crianças desumanizadas fossem insensiveis à vida humana, seja qual for a cor, credo ou sexo. E não é só porque nos toca o chocante deste incidente que o devemos particularizar, ou generalizar se o fizermos para classificar umm povo. Nós somos um povo de brandos costumes e assim o choque é maior. Mas basta estar atento às noticias que nos chegam de todo o mundo para perceber que este não é um problema isolado, nem vai desaparecer, seja qual for a medida ou intenção que se tiver contra estes jovens. Porque, seja qual for o seu crime - e o maior será semmpre terem nascido no seio de familias disfuncionais, num País disfuncional - vai-se mais uma vez eliminar o problema sem resolver as causas. E daqui a uns tempos estaremos a digerir outro qualquer incidente desta natureza. Da natureza humana que o é cada vez menos. Humm
Adorei o que aqui foi escrito. De uma forma muito simples descortinou uma das grandes falhas deste sistema o "prolongar do estatuto de criança". Cada vez mais se assiste a uma desculpabilização dos jovens criminosos(porque o são) com o facto de serem "apenas" crianças. Só discordo quando dizes que é preciso reeducar. Para mim seria mais punir, não quero aqui dizer olho por olho....mas acho que o reeducar já não é suficiente, até porque não me parece que os meninos não soubessem o que andavam a fazer.Foi um crime, por isso há que haver penalização e não andarmos com paninhos quentes a deitar as culpas à sociedade...
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