sexta-feira, janeiro 21, 2005

Túmulo de Palavras

Cogito sobre as coisas que me recordam conversas distantes com "amigos". Não sei bem o quê...
chegam-me à memória rostos, sons, cheiros, vozes.
Não compreendo o que dizem.
Estou cansada, é-me difícil saber se sou eu ou o meu corpo que está cansado.

Talvez estejamos os dois. Aturamo-nos os maus humores e os momentos de felicidade. Dormimos e amamos juntos.
Por vezes apetece-me abandoná-lo, voar e estender-me por cima dele. Mas há momentos tão tristes...momentos em que não estás aqui. É obsessão minha amar-te.
Se fechasse os olhos, ter-te-ía só para mim, até à linha inexistente do horizonte...
Anoitece sobre o meu corpo. Devagar. Anoitece onde não estou, dentro dos objectos que evocam a tua presença. A penumbra invade tudo o que é sólido.
Dantes a solidão vergava-me, mas com o passar do tempo, povoei-a de sorrisos, corpos que aderem à memória e me recordam que existo. Quando se aprende a estar sozinho, tem-se tudo e não se possui nada.
Se morresse agora, não deixava nada, porque bebi tudo com toda a minha sede, esvaziei-me, devorei esse amargo que têm as coisas antes de nos pertencerem.
O teu corpo...custou-me tanto a reinventar-lhe formas consistentes...e a tua alma vive agora dentro do espelho onde se perdeu o meu corpo...A paixão talvez seja um lugar onde a luz mal se ergueu ainda, e as palavras se formem a partir de silêncios, onde ardem brandamente, confusas, dispersas, apenas sons indefinidos, criando outras realidades.
É com medo que me vejo atrás de cada uma delas... As palavras mudas escondem o meu pavor de um dia deixar de saber quem sou.
Desejar que o mar recuasse, significaria ter-te aqui e um instante mais tarde beijar-te o corpo todo...
Meu coração presente a tua continua ausência...no fundo, tu existes dentro de mim, fazes parte da minha vida.
Posso assim correr o risco de enlouquecer sozinha!
A noite vem fria e ligeira como um insecto. Pouso a minha cabeça na tua voz, cubro o rosto com as tuas asas de borboleta...

Sinto que são horas de me erguer e caminhar para fora deste túmulo de palavras!

Sem comentários: