8.15 A.M. Chego a casa e enterro o meu corpo na luz, na doce seiva da manhã. Durmo. Sonho até que a noite regresse de novo ao meu sangue fervilhante, e me desperte a ânsia de viver.
22.45 P.M. De novo revitalizada, sinto-me envolvida pela sensualidade da escuridão que me invade a casa, o corpo, as entranhas...
Por entre passos incertos, caminho como que hipnotizada em direcção a uma força superior à minha vontade, que me transporta para um espaço além dos corpos, onde paira a obscura imagem da purificação... e através do inesperado esgravatar de
sombras aveludadas, deparo-me com o imprevisto silêncio das imagens...
1.52 A.M. Já me encontro envolta na inevitável molhe humana, onde com o meu rosto louco nocturno me confundo, me transformo, e imbuo os esgares sensuais que através da sua mudez sufocam desejos acidulados...
4.18 A.M. O movimento das luzes aumenta a velocidade das transformações que distorcem a realidade, há no ar uma confusão de odores que embebidos em excessos transparecem acidez, e que se lançam numa vertiginosa metamorfose, num trepidante esgravatar dos corpos, das almas.
Defronte do espelho, sinto o meu corpo quente, obcecado como um pêndulo entre o belo e o horrível, faço jogos de cores, misturo todas as imagens de que me consigo recordar num cicio mudo, e sinto-me milhares de máscaras e milhares de corpos abandonados ao mesmo tempo. Suo. Fumo.
Envolvo-me na desejosa sensualidade da molhe, livre voo por entre milhares dê partículas perdidas, por entre este ar tão pesado que nos resgata as almas... vejo-as enclausuradas no interior dos corpos limitados e sólidos.
7.05 A.M. Por entre a plúmbea, o alucínio da horde rende-se às imagens de uma música transformada, que exala um cheiro a suor aveludado, imbuído em álcool, droga e sexo.
O desgaste começa a quebrar a subtil camada que protege este rosto louco, e põe à vista as pessoas que já não são pessoas, pois as suas identidades confundiram--se no crisol da massa...
Estão todos tão bem dispostos!... Tão bem dispostos como quem já está morto, como quem se move silencioso no interior surdo das suas próprias sombras.
8.35 A.M. O dia nasce lá fora. Caminho de novo em direcção à seiva da manhã. O antagonismo palpita feroz no meu pensamento, e o cansaço apodera-se do que resta do meu corpo. Não chego a sentir o calor do sol na face ainda isolada pelas réstias de uma máscara... O que vale é a lembrança de uma vida de martírio ininterrupto, mas de infinito prazer.
Há 7 meses
6 comentários:
10:00 A.M.:
Quando a perspectiva se torna poliédrica,
quando parte do meu corpo desaparece,
quando a percepção auditiva abandona a habitual estrutura fisiológica,
e uma deflagração de luz e cor me satura a visão,
o portal escancarado de um teatro transmutado em Catedral de Ritmo reclama o meu corpo.
Entro, e a noite finalmente começa.
(adenda a "underground")
MissM:
Queira obsequiar-me com uma visita a:
http://LchaimShedim.blogspot.com
Cumprimentos.
N é por mal, mas a tua frase "O que vale é a lembrança de uma vida de martírio ininterrupto, mas de infinito prazer" roça o plágio
a uma frase de Miguel Esteves Cardoso em "O Amor é Fodido", a única diferença é que ele escreve "..é a lembrança de uma vida de martírio ininterrupto. E de infinito prazer"... Vê lá isso...
Cara Maria João:
Desde já agradeço a observação, mas desde já esclareço também que nada de intencional surgiu na fabricação dessa frase.
Coincidência talvez, ou quem sabe uma memória remota de quando li o dito livro no ainda mais remoto ano de 1996.
Plágio graças é qualquer coisa que não faz parte da minha paleta de opções para produzir textos...
Gracie...
Claro que não era minha intenção "acusar-te" de plágio, mas chamou-me tanto à atenção enquanto lia que não pude deixar de me questionar se tinhas consciencia ou não da semelhança com a tal frase de tal livro!
P.S.:Gostei do teu blog
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