Foram breves os minutos até chegar a Lisboa.
Não abri o livro do costume, apenas me deixei ficar inerte em posição voyerista e a olhar para dentro de mim...
A insegurança não me deixava concentrar em nada mais do que escassos segundos, mas as imagens perpetuavam-se-me na memória.
À minha frente, um adolescente daqueles que acabaram de entrar da faculdade, impecávelmente vestido, tão engomadinho que até parecia ter dormido em pé, as mãos arranjadas, a pele relusente do creme, os apontamentos tão limpinhos, acabadinhos de ser milimétricamente furados e encadernados... Nada nele estava desalinhado.
Mas o seu olhar, esse não parava um segundo, sempre inconstante entre os apontamentos de química e todas as movimentações à sua volta...
Saí com a minha insegurança a crescer cada vez mais, desci ao interface com o metro e não encontrei um táxi...
Lá caminhei para o subway e deparei-me com uma fila gigantesca para comprar os bilhetes nas máquinas automáticas... Ai minha nossa! Como as pessoas conseguem ser de raciciocínio lento!!
Dois metros depois lá vou eu. Mas não sei bem para onde vou...
Que se lixe! Saí na estação seguinte e meti-me num táxi. Finalmente a segurança de quem sabe para onde me leva!
Correu tudo bem melhor do que esperava (afinal ainda há quem me queira para trabalhar) e alguma ginástica temporal e espacial depois lá voltei eu ao túnel do metro, agora bem mais vazio, e já com um sorriso nos lábios, mas com outra angústia no peito...
Sem mais um cansaço descomunal apoderou-se das minhas costas...
Com o estômago vazio e a cabeça latejante a pedir por alimento e um pouco mais de sono, volto ao comboio que me embalará de regresso aquele local que conheço tão bem e cujo cheiro me tranquiliza...
Mais uma vez o livro matém-se fechado, é agora a preguiça que me invade...
Há 6 meses
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